© Illustration: Celia Maria Ribeiro Ascenso | Agency: Dreamstime.com
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
11/7/1915
When Spring comes,
If I’m already dead,
The flowers will bloom the same way
And the trees won’t be less green than they were last Spring.
Reality doesn’t need me.
I feel such an enormous joy
When I think that my death has absolutely no importance
If I knew I’d die tomorrow
And Spring would come the day after tomorrow,
I’d die happy, because it would come the day after tomorrow.
If tha is it’s time, when else should it come?
I like it that everything is real and everything is right;
And I like it because it would be that way, even if I didn’t like it.
So, if I die now, I’ll die happy,
Because everyhting is real and everyhting is right.
They can pray in Latin over my coffin if they want to.
If they want, they dance and sing around it.
I don't have any preferences when I won't be able to have preferences.
What comes, when it comes, it will be what it is.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
11/7/1915
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